Se as partidas são agitadas, os regressos nunca são pacíficos. Mesmo quem os prefere, mesmo quem encontra sempre o caminho de retorno, leva algum tempo a acomodar os pés ao chão rugoso da casa, do lugar que habita. O nosso recente regresso não foi, pois, pacífico, mas foi divertido. Na estrada, descobrimos coisas impossíveis. Como, por exemplo, gente que viaja com muito mais do que nós. Gente, no fundo, muito mais equilibrada do que nós.
T-shirt NYPD comprada na rua,
em Nova Iorque. Calções Knot.
E, no entanto, trouxemos connosco quilos e quilos de bagagem. Malas e malas cheias de coisas invisíveis. Que é como quem diz: de palavras. Novas palavras, que ecoam pela casa: "tios", "pimos" ["primos"], "paia" ["praia"], "paxina" ["piscina"]... Novas palavras que se juntam assinalando o princípio do sentido (questionando-o): "Qui é ito?" ["O que é isto?"].
Certa manhã, acordei e fui à cozinha. Na cadeira, estava sentado o F., seguindo, com o olhar, o M., que cirandava por ali. Reparo agora que a palavra "cirandar" devia escrever-se com "s". A Sophia defendeu-o em relação à palavra "dança": escrevê-la com "ç" equivale a sentá-la. Ora, o M. não estava sentado; era o F. quem estava, acompanhando com o olhar o M., no seu circuito inquieto pela cozinha. O M. "sirandava". Ele e a sua curiosidade. "Qui é ito?", perguntava apontando para os electrodomésticos. E o F., na sua pré-adolescente pachorra, respondia: "Um micro-ondas." "Qui é ito?" "Um frigorífico." "Qui é ito?" "Um forno." "Qui é ito?" "Uma torradeira." Quando achava piada à palavra, o M. repetia-a, rindo-se muito: "Fizóri!", "Tuadára!". E "sirandava", "sirandava", o grande conquistador de vocabulário.
Cá em casa, tudo se repete. Ontem, o P. esteve a proteger gavetas e armários. O grande conquistador de vocabulário é também o grande conquistador de interiores. "Qui é ito?" "Ferramentas." "Qui é ito?" "Uma tesoura." "Qui é ito?" "Qui é ito?" "Qui é ito?" Um dia, não vou saber.
Enquanto isso, continuamos a conquistar novos sons. Experimentámos mais um presente do baptizado do M.: um xilofone. Oferecido pelos Tios R., Cat. e C., é um xilofone que merece um milhão de estrelas.
Cada cor corresponde a uma nota musical. Enquanto o M. se está a divertir imenso, eu e o P. estamos a (re)aprender imenso. Parece-me justo. É assim o regresso: algo ou alguém nos aguarda, tecendo. PIM!