Já enfrentámos várias obsessões: a luz (luiz), a mãe (mamã, mã), o pão (páum), a mãe (mãe, mãe), o popó (carruuu, popóis), a mãe, o polícia (pulíxia), a mãe, a manteiga (mantxêga), a mãe, o lobo mau (bôlo bmau), a mãe, o monstro (motxo), o não, a mãe, o não, o não, o não. O não demorou algum tempo a passar e, na verdade, é palavra que não se deve erradicar da linguagem dos meninos determinados, cheios de vontade de viver. Vai-lhes temperando a existência. Porém, sendo um estado permanente, atravessa momentos de esquecimento. Esquecer para se ter a certeza de que o não é realmente coisa possível, coisa "possuível", se a palavra existisse. Como existe o não. O não do M.. Uma espécie de tentativa de fim.
Mas "nãos" já eu conheço muitos, julgo até que conheço todas as tonalidades do não. Consta que, com a idade do M., era perita em transformá-lo em palavra dita. Depois, tornei-me perita em transformá-lo em palavra ouvida, em trazê-lo para casa, os braços muito aflitos de "nãos", embrulhados em mágoa e lágrimas. O não é, pois, um velho amigo; temos uma relação pacífica, estou sempre preparada para o receber, mesmo quando não me apetece estar com ele. Não estava, contudo, preparada para o que o M. me lançou no fim-de-semana, ao jantar: "É meu. Isso, mãe, é meu."
O M. começou a ter. Quer ter bom tempo no jardim e ajoelha-se como quem pede aos deuses um bocado de sol para brincar. Tem talvez o princípio da fé. Ou então tem a certeza de que aquele seu ar de anjo loiro até os deuses convence.
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E, no entanto, aquele "É meu. Isso, mãe, é meu." foi uma história sem deuses, foi uma história quase prosaica (quase porque o pequeno anjo quebra qualquer tentativa de prosa), foi a velha história romanesca de que um português corre sempre para a comidinha.
"É meu. Isso, mãe, é meu." Era, de facto, dele o fio de esparguete que eu tentei comer. Foi por aí, por um fio, que começou a posse cá em casa. PIM!
Não, desculpe, o "não" não é meu. O "sim", isso sim, é meu.
ResponderEliminarPotatoes gonna hate.