Às vezes perguntam-me quando abandonei a infância. Se há pessoas da família à volta, respondem por mim: "Nunca. A Inês sempre quis ter 5 anos.". É verdade. Nunca a abandonei, à infância. Mas tinha 12 anos quando ela se embaciou e começou a confundir-se com a idade adulta, essa "hipótese repugnante". A culpa foi da morte. Entra-se na idade adulta quando desaparece quem mais amamos. Quando a memória e os retratos nas molduras roubam espaço ao lugar de onde anteriormente o tempo estava ausente. No momento em que o meu Avô morreu, a minha infância começou a escapar-me. Resisti. E consegui resistir sempre. A culpa foi do meu sobrinho Francisco, o primeiro bebé que criei e com quem partilhei todos os inícios. Tinha 24 anos quando ele nasceu. Mentira: tinha 5. E, por isso, ele é já mais velho do que eu. Faz hoje 12 anos. Não deveria ser ainda "teen", mas é e já me avisou que, a partir de agora, carinhos "só visuais".
— Pode ser, Tia?
— Claro que não, Francisco.
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