sexta-feira, 23 de outubro de 2015

BIG BANG III

No primeiro dia do BIG BANG, uns Embaixadores filmam a chegada do público e o ensaio geral do espectáculo Canções Com Raízes; outros escrevem offs para a peça que partilharemos hoje no blogue da Fábrica das Artes, no Facebook e no YouTube do CCB.

Ontem foi um dia em cheio. Mais um. Têm sido todos assim, como contei aqui. Assistimos ao ensaio de imprensa d'A Cidade da Tristeza Profunda, a primeira criação dos Dead Combo para a infância. Trouxe de lá um coração e um retrato. 



(Parece que está esgotado… Eu tentava na mesma…)

Finalizámos a peça do concerto dos Noa Noa, Babel, assinada pelo Simão:



Filmámos ainda o ensaio geral do espectáculo 4 Mãos, do pianista Filipe Raposo e do ilustrador António Jorge Gonçalves. Maravilhoso… Como escreveu a Carolina, uma das embaixadoras, apareceu por lá um coração onde cabiam quatro mãos. E ao qual se juntaram os corações dos privilegiados que puderam assistir a este ensaio. 



Espreitem aqui a peça:




E todos os vídeos dos Embaixadores. Já disse que é uma bela equipa, não disse? Digo outra vez: são uma das melhores equipas de jornalistas com que já trabalhei. PIM!














quinta-feira, 22 de outubro de 2015

BIG BANG II

Na véspera do arranque do BIG BANG, os Embaixadores continuam o seu trabalho de divulgação e comunicação do festival. Trabalhamos das 9h30 às 19h30, mas nem damos conta do tempo a passar. Desde terça, conseguimos entrevistar a equipa técnica e alguns artistas, filmar ensaios e instalações, fazer peças e depoimentos. Que bela equipa... Ontem até saiu no jornal… PIM!








segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Cruzar infâncias.

Cá em casa, andamos em "cover mood". Isto é, andamos a dançar versões — devagarinho ou aos pulos.

Por exemplo, Daft Punk por Daughter, ou o resgate de um tema com que as pistas de dança de um determinado Verão rebentaram, sem misericórdia:




E ainda este cruzamento de infâncias. A minha com a do M.. É que eu comecei a dançar isto, que partilho abaixo, aos 5 anos, a minha irmã e as nossas amigas Nonôs empurravam-me com tanto empenho para a bicicleta sem rodinhas, como para as pistas de dança e as festas de slows (a vassoura nas mãos de qualquer miúda que se atrevesse a dançar com o M.M....):



Courteney Cox larga o Springsteen...


E agora o M. dança isto — comigo, é certo, que 30 anos não apagam um vício:



You can't start a fire. Yes, we can. PIM!

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Manifestamo-nos para sempre.

Pedi emprestado a Almada Negreiros o nome deste blogue. Porque se, em tempos, o imperativo moral dos modernistas era erguer a voz contra o mofo de Dantas persistentes, hoje, a "common people" tem como dever erguer voz — e corpo — contra a hipótese de extinção da infância, de tudo o que ela implica em termos reais, mas também no que diz respeito ao nosso imaginário, ao nosso modo de encarar o mundo, de o fitar. Ou seja, continuamos a lutar contra o mofo, contra os fungos que se disseminam por todo o lado e atacam as nossas possibilidades, minam os nossos caminhos. Por esse motivo, a frase que todos os dias aqui me acompanha exprime exactamente isso: "Ter um filho nos dias que correm é uma espécie de manifesto." E, curiosamente, é uma espécie de manifesto pelos leitores de poesia. Semelhante àquele que escreveu a minha amiga Filipa Leal. É que, felizmente,




Como a infância. Como um passeio no jardim. Como as memórias. Como um livro infanto-juvenil. Como este blogue. Como os amigos. Que, como os poetas e a infância, só servem para ouvir e ser ouvidos. Por isso, eu vou hoje manifestar-me com a Filipa. Hoje e sempre, claro. É para isso que eu sirvo. PIM!


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Big Bang I

Há dias em que precisamos de um abraço.

Há dias em que fazemos um amigo.

E dias em que apetece cantar no duche.

Há dias em que nos apetecia mesmo dormir debaixo de uma grande árvore.

Há dias reais. Dias irreais. E dias surreais.

São frases do belíssimo e inquietante Um livro para todos os dias, escrito pela Isabel Minhós Martins, ilustrado pelo Bernardo Carvalho e editado pelo Planeta Tangerina. Uso-o, de facto, todos os dias. Como se usa uma camisola interior num dia de neve muito, muito frio. Ou um fato de banho num dia de praia muito, muito quente. Nos últimos dias, quase o decorei de uma ponta a outra, e por ordem (este livro pode ser lido com alguma desordem), porque integra um dos espectáculos da Boca Aberta, projecto do Teatro Nacional D. Maria II que estou a criar com a Maria João Cruz e a Catarina Requeijo e sobre o qual falarei aqui em breve.


Hoje, uso-o para descrever os dias de um outro projecto em que estou envolvida: são dias em que me dão um abraço (até quando acho que não preciso e, afinal, até preciso); dias em que faço amigos; dias em que regresso a casa com vontade de cantar no duche; dias em que me apetece mesmo dormir debaixo de uma árvore (uma árvore do Jardim das Oliveiras, no CCB, quando os miúdos estão a lanchar). São dias reais, porque é do que está a acontecer que falamos; dias irreais, porque falamos de coisas que começaram por existir na imaginação de algumas pessoas e de coisas que continuam a existir apenas na imaginação dessas pessoas; e dias surreais, porque falamos, por exemplo, de pianos que não são (apenas) pianos e onde cabem pequenas bolas brancas e sons que era suposto um piano não fazer. Em suma: há dias de sorte. Como aquele em que a Sofia Cardim, do gabinete de imprensa do CCB, me telefonou para me convidar a mim e ao Pedro (Macedo) para sermos os formadores dos Embaixadores do Festival Big Bang. Eu já conhecia o Big Bang desde a sua primeira edição, era então editora do Diário Câmara Clara e a Filipa Leal fez uma peça sobre o arranque daquilo que se anunciava como um festival europeu de música e aventura para crianças, como um projecto internacional que envolvia cinco parceiros de cinco países diferentes: Zonzo Compagnie (Bélgica), CCB (Portugal), Stavanger Konserthus (Noruega), Opéra de Lille (França) e Millenáris (Hungria); só não conhecia o projecto Embaixadores que, em rigor, é uma novidade da edição deste ano. É que o Big Bang tem vindo a crescer, mantendo-se, contudo, "uma aventura de criação musical". Assim o definia António Mega Ferreira, presidente do CCB ao tempo da primeira edição. Eu acrescentaria: e de fruição musical. É, aliás, um dos projectos mais fortes da Fábrica das Artes, hoje dirigida pela incansável Madalena Wallenstein e que, ao longo de mais de uma década, quando ainda se chamava Centro de Pedagogia e Animação, teve à sua frente uma outra incansável Madalena, a Madalena Victorino. Parece-me não ser possível reflectir em Portugal sobre a criação artística para a infância e a juventude e sobre a formação de novos públicos sem considerar a história da Fábrica das Artes, que tanto gosto de visitar — com os sobrinhos, com o meu filho e até sozinha, que isso de começarmos a prestar atenção às criações para a infância apenas quando temos crianças à nossa volta é não apenas uma perda de tempo, como a perda do caminho de regresso a casa, à essência.

Os miúdos mencionados umas linhas acima, os que gosto de ver lanchar estendendo-me debaixo de uma oliveira, são, então, os Embaixadores do Big Bang, dez meninos e meninas com quem me fartei de aprender durante uma semana de Setembro e com quem passarei a próxima. Estão aqui, no spot que o Pedro criou para o festival:




A missão de que eu e o Pedro estamos encarregues é, como se percebe pelo spot, a de os ensinar a comunicar, a divulgar o Big Bang, assinando peças sobre as várias criações que integram o festival, sobre as equipas que o organizam, sobre o público que passa pelo CCB nos dias de Big Bang... 
A Carolina, o Diogo, o Gaspar, o Jaime, a Laura, a Maria, o Miguel, o Pedro, o Simão e o Tomás têm entre 8 e 13 anos e já entrevistaram o Filipe Raposo e o António Jorge Gonçalves









o Filipe Faria e o Tiago Matias, do projecto Noa Noaa Big Band Junior e, claro, a Madalena Wallenstein. 



Enquanto um fazia a entrevista, outro segurava na perche, outro fazia o som, outro a câmara, outro assumia as funções de assistente de câmara, outro manejava a claquete... E ainda editaram depoimentos e escreveram peças, acima partilhadas. Em termos profissionais (escrever poesia não é profissão, atenção...), não há nada que me dê mais prazer do que compor uma bela peça. Julgava eu. Muito melhor é ensinar miúdos a fazer o que gostamos de fazer e o que em tempos gostámos de fazer muito, muito bem: explicar-lhes que a imaginação e a criatividade não são inimigas do rigor, pelo contrário; revelar-lhes como se parte para uma boa conversa com um criador, com um artista; demonstrar-lhes que, no chamado jornalismo cultural, o espanto, a curiosidade e a partilha são essenciais — e naturais, porque raramente precisamos de nos esforçar para nos espantarmos com o que os nossos criadores fazem.

Para a semana, partilharemos mais peças, inclusivamente nos dias do festival (23 e 24 de Outubro). Estejam atentos à página do CCB no Facebook, ao YouTube e ao blogue da Fábrica das Artes. Vai ser uma semana de dias cheios e [de] dias em cheio. E de dias que somam as duas coisas. PIM!

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

"Camóne, amigo!"

Lembro-me de estar deitada a ler, no sofá da sala do meu pai, e de ter como ruído de fundo uns insistentes "camóne, amigo!". A voz era a do meu irmão, nos seus 4, 5, 6, 7 anos, o meu irmão ocupadíssimo a inventar narrativas em que os cowboys da Playmobil chamavam "amigo" a índios e piratas. Juntos percorriam faroestes e jardins zoológicos, comboios e navios, com aquelas mãozinhas em U ocupadas a manejar pistolas, espadas e machados. Era outra forma de ler, a do meu irmão. Uma forma de ler capaz de contaminar a família inteira: "Camóne, amigo!" tornou-se um dos nossos slogans.

A próxima vítima é o M.. Como seria de esperar, foi o meu irmão quem o iniciou bem cedo no universo Playmobil. Ainda por cima com um brinquedo que reúne aquilo de que o M. mais gosta: carros e bichos. 



Depois, chegou cá a casa a mítica Arca de Noé, presente dos Tios J.F. e Pat..



E, mais recentemente, a carrinha da escola, oferecida pelos primos brasileiros. 



Foi a loucura. Há miúdos que dormem com peluches; o M. dorme com a carrinha da escola. Não conhece ainda o prazer de gritar um "camóne, amigo!", mas, para gerir as crises do quotidiano (birras para ir para a escola, birras para cumprimentar a professora, birras, birras, birras...), vai criando umas histórias:

— Mamã! Mamã! Olha estes meninos a irem para a escola. Sem birras! Vão sem birras, mamã!
— ...
— Adeus, mãe e pai! Ça va? Oui? Ça va?



Ténis Bobux (comprados na Organii Bebé); calças Zara;
T-shirt Zippy. Almofadas IKEA. Jeans pendurados ao fundo, 
depois da birra "não-vou-à-casa-de-banho-ups", H&M.


A Playmobil chegou em 2015 aos 40 anos. Tem idade para ser mãe do M.. E irmã mais velha do meu irmão. E, na verdade, minha irmã mais velha. Camóne, amiga! PIM!

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

"Tabarões enormes!"

Estreias: no Oceanário e na actualização da palavra "tabarão", que finalmente conquistou a letra U, transformando-se num gigantesco tUbarão. PIM!










quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O resto é paisagem: diálogos em trânsito

No momento em que o adolescente F. resiste a conversas, revirando os olhos sempre que o interpelamos (ele que tanto me contava quando enfrentávamos o trânsito da cidade...), o M. apodera-se desse espaço deixado vago pelo primo. Parece que é assim que funciona a lei das compensações. O que só me consola se pensar que teremos, neste lado da família, um adolescente de cada vez, até porque o A., grande fã de diálogos ao telefone, dificilmente permitirá que a adolescência o afaste de dois bons dedos de conversa.

Todos os dias, eu e o M. passamos por um dos vários cartazes que António Costa espalhou pela capital. Fica muito intrigado a olhá-lo e, esta semana, resolveu fazer daquilo tema de conversa:

— Quem é, Mãe?
— O António Costa.
Puquê que xe extá a rir?
— Boa pergunta, filho.

E rimo-nos então os dois. Aliás, desde esse momento, o M. não passa pelo Costa sem se rir à gargalhada. Quem diria que o sorriso do Costa podia ser tão contagioso? 

Ontem, passámos pelo cartaz de Jerónimo de Sousa. 

— Quem é, Mãe?
— O Jerónimo de Sousa.
Qué que está ali a fajer?
— Campanha política.
Puquê?
— Porque quer ser primeiro-ministro.
— Como o Fernando Pexoua? São muito parexidos.

Continuei a conduzir pela estrada fora e, enquanto imaginava o Pessoa a dar voltas no túmulo, ou que nem criança que chora na estrada, foi do Campos que me lembrei: "Rotineiros da revolução, passai! / Sufoco de ter só isto à minha volta! / Deixem-me respirar!" E abrimos todas as janelas. PIM!