Lembro-me de estar deitada a ler, no sofá da sala do meu pai, e de ter como ruído de fundo uns insistentes "camóne, amigo!". A voz era a do meu irmão, nos seus 4, 5, 6, 7 anos, o meu irmão ocupadíssimo a inventar narrativas em que os cowboys da Playmobil chamavam "amigo" a índios e piratas. Juntos percorriam faroestes e jardins zoológicos, comboios e navios, com aquelas mãozinhas em U ocupadas a manejar pistolas, espadas e machados. Era outra forma de ler, a do meu irmão. Uma forma de ler capaz de contaminar a família inteira: "Camóne, amigo!" tornou-se um dos nossos slogans.
A próxima vítima é o M.. Como seria de esperar, foi o meu irmão quem o iniciou bem cedo no universo Playmobil. Ainda por cima com um brinquedo que reúne aquilo de que o M. mais gosta: carros e bichos.
Depois, chegou cá a casa a mítica Arca de Noé, presente dos Tios J.F. e Pat..
E, mais recentemente, a carrinha da escola, oferecida pelos primos brasileiros.
Foi a loucura. Há miúdos que dormem com peluches; o M. dorme com a carrinha da escola. Não conhece ainda o prazer de gritar um "camóne, amigo!", mas, para gerir as crises do quotidiano (birras para ir para a escola, birras para cumprimentar a professora, birras, birras, birras...), vai criando umas histórias:
— Mamã! Mamã! Olha estes meninos a irem para a escola. Sem birras! Vão sem birras, mamã!
— ...
— Adeus, mãe e pai! Ça va? Oui? Ça va?
Ténis Bobux (comprados na Organii Bebé); calças Zara;
depois da birra "não-vou-à-casa-de-banho-ups", H&M.
A Playmobil chegou em 2015 aos 40 anos. Tem idade para ser mãe do M.. E irmã mais velha do meu irmão. E, na verdade, minha irmã mais velha. Camóne, amiga! PIM!
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