quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

É então isto para crianças? — Parte I: Sentada no dorso de um leão.


Tanta culpa, tanta culpa, tanta, tanta, tanta, por ter deixado este meu blogue de porta fechada por uns tempos. Já tentei justificar-me com os bichos que me invadiram a casa — bichos feitos livros (e livros feitos bichos), sobre os quais prometi escrever aqui em breve. Cumprirei a promessa. Por agora, reabro a casa, que ficou desamparada como uma cabana de praia em dias de tempestade, para ir partilhando o que vai acontecer a 9 e 10 de Fevereiro na Gulbenkian. Anunciei-o aqui, no Facebook, quando saiu, na newsletter da Fundação Calouste Gulbenkian, a notícia sobre o colóquio É ENTÃO ISTO PARA CRIANÇAS?, que estou a comissariar a convite do Programa Gulbenkian de Língua e Cultura Portuguesas. 




Nos próximos dias, até o colóquio arrancar, darei pistas sobre o que lá se vai passar. Por agora, deixo parte do texto de apresentação que escrevi:


É então isto para crianças?
Criações para a infância e a juventude


É antiga a questão que dá título a este Colóquio: o que é afinal uma criação para a infância? Cria-se para ou será que o que é criado encontra naturalmente, na sua fase final e última, aquele a quem se destina?
Deste ponto parte o nosso Colóquio, propondo aos intervenientes e ao público uma reflexão sobre as motivações de um criador num momento em que as crianças ocupam, no espaço público, um papel central: quase todos os museus e teatros têm serviços educativos, os festivais de cinema e música apresentam secções destinadas aos mais novos, multiplicam-se as editoras que apostam em livros infanto-juvenis, assim como os escritores e ilustradores... O que se pretende transmitir às crianças com tantas actividades e com tantas possibilidades? Não será certamente apenas uma forma de as entreter. Talvez seja acima de tudo um modo de lhes revelar que, no que diz respeito à leitura do mundo, não há fórmulas nem manuais de instruções; e talvez seja ainda um modo de sublinhar a necessidade da partilha.
A partilha apresenta-se, pois, como o mote para estes dois dias dedicados à infância e à juventude. A partilha enquanto tópico problemático na infância: por um lado, à medida que se descobre o mundo, há uma necessidade de tudo partilhar, de comunicar; por outro lado, ao se adquirir a consciência de que o mundo e as suas coisas podem ser nossos, vai-se encarando a partilha como risco.
Assim sendo, propõe-se aos criadores reunidos neste Colóquio que tragam um livro, um filme, uma canção, em suma, uma criação para a infância que os tenha influenciado, para que, partindo dela, nos apresentem as suas respostas às perguntas que dão título a cada uma das conversas deste Encontro. Pretende-se com isto o cruzamento de vozes, a troca de experiências e modos de criar; em suma: a partilha.

A partilha. Foi talvez o maior tesouro que trouxe da infância, quando o meu Avô Zeca me passava a mão pelo braço, o punho cerrado se a história era a do Leão Velho, as unhas à gato se a história era a do Leão Novo. Cresci sentada no dorso de um leão. Com a imaginação à solta. PIM!

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