terça-feira, 16 de setembro de 2014

Lamento contínuo.

Novo dia, novas queixas. Hoje vou queixar-me de um amigo. Ligeiramente, brevemente (não tenho tempo para mais, que sorte a do objecto da queixa, que neste caso até é sujeito). É um amigo de adolescência, sendo certo que, como deixei escrito algures num poema que simula uma autobiografia, "eu nunca tive amigos / adolescentes, mesmo os que diziam que eram mentiam, / tinham centenas de anos". O J. é, pois, meu amigo de infância, lugar de onde nunca saímos. Tentaram obrigar-nos. Resistimos. Ora, o meu amigo de infância partilhou há dias comigo a série Comedians in Cars Getting Coffee, uma daquelas invenções "seinfeldianas" que nos atiram para o sofá às gargalhadas. A mim e ao meu amigo J.. E aos nossos mais-que-tudos, ambos Ps. A vocês não sei. 


Na quarta temporada, Sarah Jessica Parker, que aparece numa versão muito mais próxima de Mamet, com a gargalhada rouca, espontânea, ou até mesmo dos primeiros episódios de Sex and the City, do que da lobotomizada Carrie que fechou a referida série, fala sobre a sua infância, sobre o modo como entrar num carro tipicamente americano a faz regressar a esses happy fields. Seinfeld também o faz, mas Seinfeld, well, Seinfeld detesta o super-automóvel e o facto de ir destruindo o discurso amoroso de Parker em relação ao "popó gandi", como diria o M., contribui para que o mesmo se intensifique, disparando em várias direcções. O episódio em que motorizadamente se caminha sobre as veredas da infância pode ser visto aqui

Enquanto o via e assistia ao discurso de Sarah Jessica Parker, às suas descrições, lembrei-me de Bachelard: "As lembranças são imóveis, tanto mais sólidas quanto mais bem espacializadas." É por isso que, logo no início, Parker, naquele espaço concreto, anuncia: "My kids are going to be so happy here". Ela foi realmente feliz num carro igual àquele. E eu, que devia estar feliz com a generosidade do meu amigo J., que partilhou esta série comigo e me conduziu, por caminhos improváveis, até Bachelard, estou a maldizê-lo, a queixar-me dele.

O meu lema é agora, anuciei-o ontem, "queixar-me apenas das coisas boas". Insisto então legitimamente: quem vai escrever os textos todos que tenho para escrever, J.? Quem? Queres que te mande as sinopses, os resumos, tu tratas do assunto enquanto eu acabo de ver a série? Estou no episódio do George Costanza, não posso parar agora. Só mesmo se já tiveres adormecido as crianças, as tuas e a minha, e estiveres a abrir umas cervejas para nos sentarmos a comentar cada segundo desta série. Estás pronto? PIM!

2 comentários:

  1. Para isso sempre pronto.

    E ainda bem que consegui partilhar um dos meus dramas: como me dedicar às chatices com tanta coisa para fazer instead?

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    1. Sempre atento. Naquele fim-de-semana que estivemos a planear, vingamo-nos.

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