segunda-feira, 7 de julho de 2014

Bem aplicado.

Quando o M. nasceu, um amigo meu ofereceu-lhe um brinquedo da Fisher-Price dentro do qual é possível enfiar o iPhone para que os bebés possam mexer no telemóvel com mais facilidade e menos danos. A Capa Apptivity é uma espécie de gadget para a infância.




Eu e o P. gostámos imenso do presente. Achámos uma excelente ideia, apesar de os nossos (ingénuos) planos serem outros. Agradecemos muito, trouxemos o gadget para casa e comentámos (ingenuamente): "Quando o deixarmos mexer nos telemóveis já não vai precisar de capas." O brinquedo serviria como espelho, como chocalho; dava para explorar com as mãos, para morder, enfim, para as brincadeiras típicas de um bebé de 3, 4, 5, 6 meses. Nunca para aceder a aplicações, nunca! (Ingénuos!) Se a criança não vê televisão (excepto os jogos do Benfica), também não vai nunca mexer nos telemóveis, julgávamos nós (nós, os ingénuos).

A névoa de ingenuidade que pairava sobre nós (nós, os ingénuos) começou a dissipar-se quando fizemos uma longa viagem de carro. O M. nunca teve o hábito de chorar muito. E sempre dormiu bem. Seria de esperar que, ao entrar no carro depois do almoço, adormecesse imediatamente. Não. O M. ficava desesperado dentro do carro. Era a única situação em que berrava sem parar. Fazíamos de tudo para o entreter: este brinquedo e mais o outro e ainda o outro; os popós por que íamos passando; as canções, as palminhas, as caretas e os estalos de língua; as bolachas, a fruta e a água; os "ssshhh, sshhhh, sshhh, sshhh, ssshhh" intermináveis, a mão dada e as festinhas. Nada o calava. Até que eu (eu, a ingénua já desesperada) me lembrei de que tinha instalado uma aplicação da Fisher-Price no iPad, uma das sugeridas na embalagem da Capa Apptivity. (Menos ingénua,) comuniquei ao P.: "Vou pô-lo a ver uma app. Tem 10 meses. Um gangue de bonecos fofos não o vai matar. Nem viciar." Liguei o iPad. Seleccionei o quadradinho Giggle Gang, começaram a sair gargalhadinhas do meu iPad, ao mesmo tempo que saltavam no ecrã os tais bonecos fofos, membros do muito temido (por nós, ingénuos) gangue das gargalhadas. O M. calou-se. Conforme ia tocando no iPad, surgiam mais bonecos e mais risinhos e mais bonecos e mais risinhos. Ria-se também. Riu-se durante uns minutos. Observou durante outros tantos. Esteve calado meia-hora. E isso bastou para repor os nossos níveis de serenidade. 



Ficámos completamente tranquilos quando percebemos que o M. não tinha cedido às influências dos membros do gangue: não estava viciado, não pedia para mexer no iPad, nada. Eu, no entanto, cada vez menos ingénua, cada vez mais viciada, descarreguei outras aplicações. Contactámos o gangue novamente, na viagem de regresso. E só numa outra crise - clássica -, a da sopa (Mafaldinha, sua péssima influência!), voltámos a recorrer à tecnologia. Descobrimos então que, com um ano e meio, o M. já não queria saber de gargalhadinhas encantadoras de bonecos fofos. Ria-se e ri-se com eles, mas está muito mais interessado em bichos. E "popós". E no Lobo Mau. E em moscas. Aqui fica o nosso Top 10 - desordenado, atenção! Tudo depende do dia, da hora e da actividade a que a app está a dar assistência.




Para perder o medo dos monstros. E aprender a amá-los. Para apreciar a arte de superar obstáculos (à imaginação). E a incrível arte de virar páginas. Disto, sim, não mais nos livraremos. Estamos realmente viciados. Sobretudo eu, há que reconhecer... O M. ainda não compreende o que lhe é pedido, nem o que lhe é dito, mas chora a rir com o modo de falar do Gualter.




Da parceria entre a editora Pato Lógico (mais sobre esta casa aqui) e a Biodroid, nasceram as Snap Stories, inauguradas com Incómodo (comentários sobre o livro aqui). As três aplicações sublinham o lado lúdico dos livros do André Letria: multiplicam-se as caras - humanas e estrambólicas - a grande velocidade; mantém-se enigmático e indecifrável o voo da mosca... 


O coração e a garrafa, de Oliver Jeffers (booktrailer aqui), em versão interactiva. Ou, cá em casa, em versão "a m'nina num tá!". De novo: a incrível arte de virar páginas aliada à arte de superar obstáculos à imaginação, de os adivinhar para imaginar mais.

4. Three Little Pigs e Little Red Riding Hood

Os clássicos desenrolam-se no ecrã do iPad ou do iPhone segundo as versões (very british) da maravilhosa Nosy Crow e as opções que vamos tomando para que a história siga o(s) seu(s) caminho(s). Ainda não chegámos à Cinderela. Primeiro temos que resolver o nosso fascínio pelo Lobo Mau (que é bom e vive no Jardim da Estrela).


Filha exemplar da Moonbot (Studios e Books), esta app nasceu da muito premiada curta homónima e está a meio caminho entre o livro e o filme. Podemos ouvir a história (bela voz a que acompanha a versão em inglês), podemos (des)regular a sua intensidade. Como não morrer de amores por Morris Lessmore, se ele ama palavras, histórias, livros?... Como resistir a interferir no seu mundo, a virá-lo do avesso? Seja em que suporte for, eis um belo conto sobre a passagem do tempo, sobre a memória, sobre a importância dos livros e o seu modo sereno de superar a morte.

O M. à conversa com o Senhor Lessmore.
Body Zippy.

6. Mini Zoo

Uma criação perfeita da Fox & Sheep: do modo simples como permite "mexer", moldar, transformar os desenhos à música. O M. adora. Pudera. Pode mexer em bichos: no coelho, no cão salsicha, no veado, no peixe, no elefante, no leão, no crocodilo... Uma festa. Ainda por cima, hilariante. Experimentem só tocar no pescoço da girafa para verem o que acontece...




As nossas aliadas no combate ao grito de guerra "sopa não!". É mau, mas isto de ser mãe e pai não é uma sequência de cenários belos e politicamente correctos. Confesso que nem me sinto assim tão culpada... Sobretudo quando fito, triunfante, o prato de sopa vazio. Real Animals ensina, em inglês, os nomes dos bichos, para além de revelar que sons fazem e como se comportam. Tem a vantagem de não ser meramente descritivo porque, com dois toques, os animais fazem coisas extraordinárias e inesperadas. Tal como gostamos. Já os carrinhos animados, os "popós! popós! vrummm, vrruuummm! mota!", limitam-se a fazer o M. feliz. E isso é o suficiente. (Por agora.)


Outra aplicação da Fox & Sheep. Tem versão em português do Brasil. Por enquanto, o que interessa ao M. é apagar as luzes da quinta, deixar tudo preparado para que os animais durmam em paz e sossego ("Sshhh, Mãe, bich ó-ó"). Se precisássemos de ajuda a pô-lo na cama, esta aplicação seria uma hipótese. 


Belos puzzles para todas as idades. Digo eu, que não raras vezes fico com o telefone nas mãos a compor bichos, esquecendo-me de que o "brinquedo" não é para mim...

10. Finger Drums

Pura diversão. Já não somos ingénuos. Nem sempre precisamos de muito mais do que isso. PIM!

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