Quando o M. nasceu, um amigo meu ofereceu-lhe um brinquedo da Fisher-Price dentro do qual é possível enfiar o iPhone para que os bebés possam mexer no telemóvel com mais facilidade e menos danos. A Capa Apptivity é uma espécie de gadget para a infância.
Eu e o P. gostámos imenso do presente. Achámos uma excelente ideia, apesar de os nossos (ingénuos) planos serem outros. Agradecemos muito, trouxemos o gadget para casa e comentámos (ingenuamente): "Quando o deixarmos mexer nos telemóveis já não vai precisar de capas." O brinquedo serviria como espelho, como chocalho; dava para explorar com as mãos, para morder, enfim, para as brincadeiras típicas de um bebé de 3, 4, 5, 6 meses. Nunca para aceder a aplicações, nunca! (Ingénuos!) Se a criança não vê televisão (excepto os jogos do Benfica), também não vai nunca mexer nos telemóveis, julgávamos nós (nós, os ingénuos).
A névoa de ingenuidade que pairava sobre nós (nós, os ingénuos) começou a dissipar-se quando fizemos uma longa viagem de carro. O M. nunca teve o hábito de chorar muito. E sempre dormiu bem. Seria de esperar que, ao entrar no carro depois do almoço, adormecesse imediatamente. Não. O M. ficava desesperado dentro do carro. Era a única situação em que berrava sem parar. Fazíamos de tudo para o entreter: este brinquedo e mais o outro e ainda o outro; os popós por que íamos passando; as canções, as palminhas, as caretas e os estalos de língua; as bolachas, a fruta e a água; os "ssshhh, sshhhh, sshhh, sshhh, ssshhh" intermináveis, a mão dada e as festinhas. Nada o calava. Até que eu (eu, a ingénua já desesperada) me lembrei de que tinha instalado uma aplicação da Fisher-Price no iPad, uma das sugeridas na embalagem da Capa Apptivity. (Menos ingénua,) comuniquei ao P.: "Vou pô-lo a ver uma app. Tem 10 meses. Um gangue de bonecos fofos não o vai matar. Nem viciar." Liguei o iPad. Seleccionei o quadradinho Giggle Gang, começaram a sair gargalhadinhas do meu iPad, ao mesmo tempo que saltavam no ecrã os tais bonecos fofos, membros do muito temido (por nós, ingénuos) gangue das gargalhadas. O M. calou-se. Conforme ia tocando no iPad, surgiam mais bonecos e mais risinhos e mais bonecos e mais risinhos. Ria-se também. Riu-se durante uns minutos. Observou durante outros tantos. Esteve calado meia-hora. E isso bastou para repor os nossos níveis de serenidade.
Ficámos completamente tranquilos quando percebemos que o M. não tinha cedido às influências dos membros do gangue: não estava viciado, não pedia para mexer no iPad, nada. Eu, no entanto, cada vez menos ingénua, cada vez mais viciada, descarreguei outras aplicações. Contactámos o gangue novamente, na viagem de regresso. E só numa outra crise - clássica -, a da sopa (Mafaldinha, sua péssima influência!), voltámos a recorrer à tecnologia. Descobrimos então que, com um ano e meio, o M. já não queria saber de gargalhadinhas encantadoras de bonecos fofos. Ria-se e ri-se com eles, mas está muito mais interessado em bichos. E "popós". E no Lobo Mau. E em moscas. Aqui fica o nosso Top 10 - desordenado, atenção! Tudo depende do dia, da hora e da actividade a que a app está a dar assistência.
Para perder o medo dos monstros. E aprender a amá-los. Para apreciar a arte de superar obstáculos (à imaginação). E a incrível arte de virar páginas. Disto, sim, não mais nos livraremos. Estamos realmente viciados. Sobretudo eu, há que reconhecer... O M. ainda não compreende o que lhe é pedido, nem o que lhe é dito, mas chora a rir com o modo de falar do Gualter.
2. Incómodo, De Caras e Estrambólicos
Da parceria entre a editora Pato Lógico (mais sobre esta casa aqui) e a Biodroid, nasceram as Snap Stories, inauguradas com Incómodo (comentários sobre o livro aqui). As três aplicações sublinham o lado lúdico dos livros do André Letria: multiplicam-se as caras - humanas e estrambólicas - a grande velocidade; mantém-se enigmático e indecifrável o voo da mosca...
O coração e a garrafa, de Oliver Jeffers (booktrailer aqui), em versão interactiva. Ou, cá em casa, em versão "a m'nina num tá!". De novo: a incrível arte de virar páginas aliada à arte de superar obstáculos à imaginação, de os adivinhar para imaginar mais.
4. Three Little Pigs e Little Red Riding Hood
Os clássicos desenrolam-se no ecrã do iPad ou do iPhone segundo as versões (very british) da maravilhosa Nosy Crow e as opções que vamos tomando para que a história siga o(s) seu(s) caminho(s). Ainda não chegámos à Cinderela. Primeiro temos que resolver o nosso fascínio pelo Lobo Mau (que é bom e vive no Jardim da Estrela).
Filha exemplar da Moonbot (Studios e Books), esta app nasceu da muito premiada curta homónima e está a meio caminho entre o livro e o filme. Podemos ouvir a história (bela voz a que acompanha a versão em inglês), podemos (des)regular a sua intensidade. Como não morrer de amores por Morris Lessmore, se ele ama palavras, histórias, livros?... Como resistir a interferir no seu mundo, a virá-lo do avesso? Seja em que suporte for, eis um belo conto sobre a passagem do tempo, sobre a memória, sobre a importância dos livros e o seu modo sereno de superar a morte.
6. Mini Zoo
Uma criação perfeita da Fox & Sheep: do modo simples como permite "mexer", moldar, transformar os desenhos à música. O M. adora. Pudera. Pode mexer em bichos: no coelho, no cão salsicha, no veado, no peixe, no elefante, no leão, no crocodilo... Uma festa. Ainda por cima, hilariante. Experimentem só tocar no pescoço da girafa para verem o que acontece...
Os clássicos desenrolam-se no ecrã do iPad ou do iPhone segundo as versões (very british) da maravilhosa Nosy Crow e as opções que vamos tomando para que a história siga o(s) seu(s) caminho(s). Ainda não chegámos à Cinderela. Primeiro temos que resolver o nosso fascínio pelo Lobo Mau (que é bom e vive no Jardim da Estrela).
Filha exemplar da Moonbot (Studios e Books), esta app nasceu da muito premiada curta homónima e está a meio caminho entre o livro e o filme. Podemos ouvir a história (bela voz a que acompanha a versão em inglês), podemos (des)regular a sua intensidade. Como não morrer de amores por Morris Lessmore, se ele ama palavras, histórias, livros?... Como resistir a interferir no seu mundo, a virá-lo do avesso? Seja em que suporte for, eis um belo conto sobre a passagem do tempo, sobre a memória, sobre a importância dos livros e o seu modo sereno de superar a morte.
Uma criação perfeita da Fox & Sheep: do modo simples como permite "mexer", moldar, transformar os desenhos à música. O M. adora. Pudera. Pode mexer em bichos: no coelho, no cão salsicha, no veado, no peixe, no elefante, no leão, no crocodilo... Uma festa. Ainda por cima, hilariante. Experimentem só tocar no pescoço da girafa para verem o que acontece...
As nossas aliadas no combate ao grito de guerra "sopa não!". É mau, mas isto de ser mãe e pai não é uma sequência de cenários belos e politicamente correctos. Confesso que nem me sinto assim tão culpada... Sobretudo quando fito, triunfante, o prato de sopa vazio. Real Animals ensina, em inglês, os nomes dos bichos, para além de revelar que sons fazem e como se comportam. Tem a vantagem de não ser meramente descritivo porque, com dois toques, os animais fazem coisas extraordinárias e inesperadas. Tal como gostamos. Já os carrinhos animados, os "popós! popós! vrummm, vrruuummm! mota!", limitam-se a fazer o M. feliz. E isso é o suficiente. (Por agora.)
Outra aplicação da Fox & Sheep. Tem versão em português do Brasil. Por enquanto, o que interessa ao M. é apagar as luzes da quinta, deixar tudo preparado para que os animais durmam em paz e sossego ("Sshhh, Mãe, bich ó-ó"). Se precisássemos de ajuda a pô-lo na cama, esta aplicação seria uma hipótese.
9. Shake & Make
Belos puzzles para todas as idades. Digo eu, que não raras vezes fico com o telefone nas mãos a compor bichos, esquecendo-me de que o "brinquedo" não é para mim...
10. Finger Drums
Pura diversão. Já não somos ingénuos. Nem sempre precisamos de muito mais do que isso. PIM!
Pura diversão. Já não somos ingénuos. Nem sempre precisamos de muito mais do que isso. PIM!
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