sexta-feira, 4 de julho de 2014

Rumo na vida. Um beijo, um beijo.

Um dia partimos em digressão com o Sérgio Godinho. Eu, o M., o P. e outros amigos-família, como o JP e a F.. Não foi bem assim, mas quase. Estivemos com o Sérgio numa só paragem: o Funchal. Tínhamos ido para o meio do mar para podermos participar no Festival Literário da Madeira e apresentar lá o meu livro A Habitação de Jonas. O M. estava a meio caminho entre os 4 e os 5 meses e não o consegui deixar. Nem podia: ainda estava a amamentar. Passava os dias entre as conversas do festival e os passeios com o M. e o P.; passava as noites entre os jantares e os concertos do festival e os sonhos do M. e do P., que ficavam no quarto do hotel, à minha espera. 

Um dos melhores momentos dessa edição do FLM foi o concerto que o Sérgio Godinho deu no Teatro Municipal Baltazar Dias. Bem sei que estava há meses e meses sem pôr os pés num concerto e que tal facto pode ter tido influência no modo como senti todas aquelas canções, naquele belíssimo palco, com aquele incrível intérprete, que não envelhece, está cada mais jovem, mais generoso. Pareceu-me perfeito. 

No fim do concerto, o Sérgio, que à hora das refeições tinha as suas conversas com o M., comentou comigo: "Estive mesmo para dedicar 'O primeiro gomo da tangerina' ao Manel, mas a canção fala da menina, a minha filha, não podia ser." Ficou a intenção dele e a minha promessa de um dia, quando o M. começasse a achar graça às meninas, pôr "O primeiro gomo da tangerina" a tocar na grafonola cá de casa.




Promessa cumprida. Ouvimos e lemos. O M. conhece a menina, chama por ela. A menina que a Madalena Matoso desenhou e que é toda ela "sumo na vida", "rumo na vida", "um beijo", dois, três, mil... A menina tem tempo, tem os cabelos ao vento, tem "um 'popó'!!!", anuncia o M..





O primeiro gomo da tangerina, de Madalena Matoso e Sérgio Godinho. 
Ed. Planeta Tangerina (as imagens são do site da editora).


Agora, quem conseguir espreitar pelas nossas janelas, cá para dentro, lá fora vai estando tudo na mesma, achamos nós, que calçámos os nossos sapatos mais confortáveis e pusemo-nos a dançar. Descalçámo-los depois para conseguirmos acompanhar a menina. Para conseguirmos acompanhar o Sérgio, que vai cantando várias vezes a canção, enquanto o M. circula pela casa, aperfeiçoando a sua dança-pêndulo e chamando, bem alto, a "m'nina". Já começou a descobrir os encantos da "m'nina", da palavra "m'nina", do som da palavra "m'nina", que é sempre por onde tudo começa. PIM!

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