quinta-feira, 17 de julho de 2014

O amor, essa ciência rebelde.

Dois dos meus sobrinhos, o F. e o A., têm passado a semana nos campos de férias da Science4you. Numas salas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, contam-me que fazem "explodir vulcões" e "criam cristais", entre outras coisas que para mim são abstracções. Seja como for, fico feliz por os ver tão entusiasmados. Ligo-lhes todas as noites e peço para falar com o "Cientista F." ou com o "Cientista A.". Os rapazes da ciência atendem e, com uma certa rapidez, debitam as "experiências extraordinárias" que fizeram para chegarem então a uma outra ciência, também ela extraordinária, mas muito mais rebelde e muito menos exacta: o amor.

F.: a moldar corações desde 2003.

Terça-feira, o F., que tem 11 anos, falou-nos (a mim e ao P.) de uma menina. "É linda. Quarta-feira, vou levar máquina fotográfica e depois mostro-vos." Ontem, fiquei à espera. Telefonei e o cientista F., que já partilhou mail e instagram e google+ com a beleza que o distrai das experiências vulcânicas, informou-me: "Tens tudo no Google+". Não tinha. Ainda não conheço a beldade. E no entanto já estou de pé atrás:

- Já lhe disseste que estás interessado nela? (Com o F., todo o cuidado é pouco; palavras como "amor" ou "paixão" podem terminar abruptamente com a conversa.)
- Ela já sabe.
- Disseste-lhe?!
- Foi a amiga que disse ao amigo que disse a outra amiga que lhe disse a ela.
- What?!
- Foi a amiga que disse ao amigo que disse a outra amiga que lhe disse a ela.
- E ela?
- Ela mandou dizer que não estava interessada.
- WHAT?!?!? WHAT?!??! Mas ela é cega?! Não está interessada EM TI? Isso NÃO é possível! É cega de certeza. E surda. Nunca te ouviu falar?! Mas é doida?! 

Eu passei anos e anos a aprender a lidar com as minhas frustrações, sem poder imaginar que seria muito mais difícil lidar com as frustrações dos meus "filhos" - os meus sobrinhos, o meu filho. Do outro lado da linha, o F. suspira. E eu vou de novo espreitar o Google+ para perceber se as fotos estão lá ou não, se já posso desenhar uns chifres de diabo à beldade das experiências científicas.

Nada no Google+. E continuo:

- Bem, tens que perceber se ela é tonta ou não. A beleza é um pormenor. Importante, claro, mas um pormenor. Um bónus. E sabes que as miúdas gostam de fazer sofrer os rapazes.
- Sim, Tia. É aquela coisa do "quanto mais me bates, mais gosto de ti". Estou preparado. 
- Pois. Vê lá se ela te merece... (Ainda gritei, enquanto o P. arrancava o telefone das minhas mui indignadas mãos.)

O P., como é homem, resolveu o problema de outro modo, muito menos dramático e muito mais prático (estou a aprender, estou a aprender...): 

- F., não leves isso muito a sério. Já sabes que no Verão fazemos imensas conquistas na praia. Não te podes comprometer.
- OK, Tio! Beijinhos!

Estou a aprender, estou a aprender...

Entretanto, noutra sala da Faculdade de Ciências, o A., que tem 7 anos, conquistava cristais e corações. 

- Tia, há duas miúdas que querem namorar comigo.
- A sério?! 
- Sim. 
- O que vais fazer?
- Namorar com elas.

No dia seguinte, quarta-feira, o A. tinha feito mais descobertas científicas:

- Sabes uma coisa, Tia?
- Conta!
- Uma das miúdas que quer namorar comigo disse-me que está muito apaixonada por mim.
- Disse-te isso assim?!
- Disse: "Estou apaixonada por ti."
- E tu estás apaixonado por ela?
- Estou!
- O que vão fazer agora com tanta paixão?
- Sei lá... Vamos casar-nos, acho.
- Casar?! E vão viver de quê? Da ciência?
- Sim, tem que ser.
- OK, boa. Como é que se chama a minha nova sobrinha?
- Sofia... de Mello Breyner. Ahahahahahahahah!
- Ahahahahahahahahah! 
- É Sofia. Sofia não sei quê. Mas não é Mello Breyner.

Pois não, eu sei. Isso queria ele. Ou talvez quisesse eu.

- Já disseste à Sofia que estás apaixonado?
- Amanhã trato disso.

O A. é o chamado "natural" nestas coisas do amor. Está sempre do lado dele o "quanto mais me bates, mais gosto de ti". Há, de facto, vulcões em erupção nas salas da Faculdade de Ciências. Os meus sobrinhos bem me avisaram. PIM!


P.S. Hoje, depois dos jogos da ciência, vamos para os jogos dos desenhos e das palavras. Vamos visitar o Planeta Tangerina. Aguardo, ansiosa, mais pormenores sobre os jogos do amor.


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