Ao começar este post, escrevi: "Ontem a derrota foi dura". Depois, apaguei a frase. Ia corrigir: "Ontem o empate foi duro". Para quê, se teve o sabor da derrota, se foi de facto derrota, se vai terminar numa derrota ainda maior? A derrota tem, contudo, um lado luminoso, uma espécie de serenidade capaz de nos empurrar para territórios desconhecidos. Eu, por exemplo, fui ontem conduzida às 2 da manhã para o mundo dos cavalos. Estava a dar na televisão, não sei se no Discovery Channel, se no Canal História, se no National Geographic, um documentário sobre cavalos que tinha uma abordagem curiosa: apontava e explorava as mudanças sociológicas para as quais os cavalos foram determinantes. Uma delas era o uso de calças. As calças, sim, peça de vestuário. Parece que foi na Antiguidade que se compreendeu a importância de um bom par de calças: como podiam os guerreiros combater a cavalo de túnicas e saias?
Assim me sentia também eu, quando era miúda e assumia outro tipo de missões, daquelas que implicavam algumas lutas e alguma valentia e me preenchiam os dias. Como andar de bicicleta. Ou saltar muros. Ou apanhar ameixas das árvores. A minha mãe, a minha sofisticada e sempre hiper-arranjada mãe, queria que eu usasse vestidos românticos, com bordado inglês, e sapatos com fivela, ligeiramente quadrados à frente.
A minha mãe. |
Eu queria as minhas botas de carneira ou os meus ténis Le Coq Sportif azuis - feios em qualquer época e em qualquer parte do mundo - e aquelas calças de xadrez que combinavam com pouca coisa, nunca com uns ténis desportivos azuis, ou as outras calças de bombazine castanha, muito fininha e confortável. Negociávamos: ia de calças, mas a camisa tinha golinha (perdoa-me, minha T-shirt clássica do Snoopy, nem sempre venci). Às vezes, conseguia ganhar o jogo à minha mãe pela via da exaustão. Há provas disso: num retrato, apareço, muito direita e determinada, de vestido romântico conjugado com umas botas de carneira que me cobrem as pernas até aos joelhos; ao meu lado, a minha irmã e a minha mãe, lindas nas suas toilettes, impecáveis da cabeça aos pés.
A alegria dos Le Coq Sportif. O sofrimento dos vestidos de golas.
Não consigo determinar a origem da minha paixão por calças: pode ter nascido do facto de eu ter sido sempre uma guerreira da infância; pode ter sido uma herança de família. É que eu, para além de ter tido - e de ter - uma mãe sofisticada, tive a avó mais elegante do mundo. Não havia - nem há - ninguém que ficasse tão bem de calças como a minha Avó F.. Usava-as largas, com sandálias tipo plataforma; ou muito justas, acima do tornozelo (tinha umas amarelas maravilhosas), com uns stilettos coloridos e improváveis. Herdei muitas delas. E uso-as a toda a hora. Fazem parte da minha colecção de calças. Recordo-me de um dia me terem perguntado, num inquérito de jornal, qual a minha peça de roupa preferida. Respondi o óbvio: "As minhas calças - de todos os géneros, tecidos e feitios."
Ora, se percorrer hoje imagens das divas que marcaram a minha infância, noto que usam todas vestido. Dou três exemplos claríssimos:
Talvez a minha avó fosse, afinal, a minha única diva...
Tanta conversa, tantas recordações, apenas porque ontem, antes da derrota e do documentário sobre cavalos, quando fui buscar o M. a casa da minha mãe, foi-me anunciado um impedimento relacionado com calças: "Já não lhe podes vestir mais estes jeans. Apertam-lhe muito a barriga, Inês! Não insistas mais." Não insisto. Rendi-me aos factos; ou melhor: ao facto de o meu filho ter uma gigantesca e no entanto apetitosa barriga. Está a testar o perfil para anos vindouros, certamente. À noite, antes do jogo, fui para as lojas, o que, no meu caso, significa pegar no iPad e procurar online novas calças.
Neste momento, não sabemos ainda que calças escolher. Queremos estas todas.
Jeans Name It (aqui). Jeans Phister & Philina (aqui).
Ambos na Boozt.
Calças Indikidual (aqui e aqui). Ambas na Loja Dadá.
Pormenor importante para mães recentes: verifiquem sempre se a cintura das calças (sobretudo dos jeans) tem elásticos ajustáveis. A tanto a barriga obriga. PIM!
Sem comentários:
Enviar um comentário