sexta-feira, 6 de junho de 2014

Jogos matinais.

Gosto de jogos. De jogar. Jogos de tabuleiro, jogos de futebol, jogos de cartas, jogos de amor, jogos de palavras. Jogos. 

Jogos de tabuleiro no quarto dos brinquedos.


Jogos de palavras numa parede de Lisboa.

Contam-se, na minha família, histórias de tetravós e trisavós viciados no jogo. Um deles, em tempos imemoriais, chegou a pagar uma dívida de jogo com a pedra de armas da família. Ficou na penúria. A minha avó contou-me tantas vezes esta história que se foi esbatendo em mim a vontade de jogar. De jogar para ganhar. Porque nunca gostei de perder. E passei a infância a alimentar vitórias. Melhor: passei a infância a assistir ao meu avô a alimentar as minhas vitórias. A criá-las. Era imensamente batoteiro - para me beneficiar. E eu lá ia ganhando crapôs atrás de crapôs. Um dia pedi-lhe para jogarmos a sério, para não me deixar ganhar. E ganhei. Gostei tanto que achei melhor começar a jogar menos. Ou a fingir que me podia tornar uma jogadora distraída, desligada, blasé. Verdade seja dita que, depois da morte do meu avô, o jogo - como a vida - passou a ter menos interesse. Até chegarem as crianças.  

A mais nova das crianças da família, o M., gosta de jogar. E de ganhar. Marca golos e fica à espera do aplauso. Não desperdiça uma oportunidade para sair vitorioso de qualquer situação. Não sei se acho muita graça a isto. Logo se verá. 

Hoje, por exemplo, venceu-me. Todas as manhãs, enquanto tomamos o pequeno-almoço, pede para ir para a varanda. Eu não deixo porque está vento ou chuva ou sol. E ele ainda está de pijama, não dá, não pode ser, espera uns minutos. Hoje venceu-me: descobriu como abrir a porta e, quando dei conta, estava a correr na varanda. A varanda, debaixo de chuva e de vento; ele, debaixo de chuva e de vento.

Trouxe-o para dentro. Berrou e espirrou que se fartou. Resolvi pôr uma música do Peter Broderick que tinha recuperado há dias (não ouvia Peter Broderick há longos meses...) por causa de um post que o Ricardo Mariano tinha partilhado no Facebook: Games again. O M. pôs-se a praticar a sua dança-pêndulo, já aqui descrita. Acalmou-se. Mal sabia ele que ainda estávamos em jogo: "We're playing card games/ Till some dawn/ We're playing heart games/ Please, please, please, please play along."

Hoje à noite, noutras partidas, citarei esta canção. Vou apresentar o livro Todas as cartas de amor, do Paulo José Miranda. Tem desenhos da Mariana a Miserável e é editado pela Abysmo. A festa desta noite não será para crianças. Mas será sobre o amor (e sobre a ausência). E será feita com amor. Direi, às tantas, que, apesar de não haver nada que lhe seja comparável, se não se for cauteloso, o amor de mãe pode ser aniquilador - esse amor que marca peles com tinta desde tempos imemoriais. Mesmo em quem recusa expressamente a tatuagem. PIM!



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