Há aquele samba do Martinho da Vila que, em ritmo acelerado, apela a um certo abrandamento do tempo. Eu não sou de sambas; o M., a avaliar pelo modo como se pôs a abanar a bundinha assim que ouviu este, talvez seja. De qualquer modo, somos ambos de contradições: crescemos em ritmo acelerado (ele está a crescer em ritmo acelerado; eu já cheguei a esse lugar onde se detém o crescimento, e cheguei rapidamente), recorrendo, contudo e amiúde, a estratégias de abrandamento do tempo - as manhãs de mimos na cama, os momentos em que, sentados no sofá, imitamos as gargalhadas um do outro, tentando ser o eco um do outro, os outros instantes em que nos estendemos no chão a olhar para o tecto... Fazemos pausas várias vezes, costume que me devolveu aqueles longos dias das férias grandes em que tinha tempo para ficar uma tarde inteira a andar à roda, à roda, à roda, os braços esticados na horizontal, até o corpo cair na sala de estar da casa dos meus avós. Uma vez, duas vezes, três vezes, cem vezes... Era a minha brincadeira em modo slow (houve outras mais tarde, nas festas da cave em que dançávamos slows com os miúdos giros do prédio até nos passarem a vassoura para as mãos; quando o M. chegar à adolescência, escreverei mais sobre o assunto).
É também devagar que se pede hoje que brinquem as crianças. Até há um movimento, o Slow Toy Movement. Pode ler-se mais sobre ele aqui. E aqui. Gosto dos brinquedos que venceram os prémios para melhores "slow toys" em 2013. Eis o meu preferido dos eleitos nesse universo que recusa o plástico e o barulho:
Comboio "around the world" Bigjigs Toys |
Passando os olhos pelo que trouxe de Paris para o M., confirmo que me ando a portar bem. Não levantam a voz nem abusam do plástico os presentes do meu filho. Talvez apenas as T-shirts da GAP, mas essas, a desrespeitar alguma coisa, seria o Slow Fashion Movement, ou seja, outro departamento da lentidão. Para além disso, não conseguiríamos nunca mais fitar as nossas consciências nos olhos se tivéssemos abandonado este papa-formigas nas ruas solitárias de Paris.
T-shirt GAP Kids |
E é óbvio que tivemos que ceder ao mundo dos veículos clássicos. Como abandonar no meio do trânsito parisiense este VW Bus T2 com prancha de surf?
Tirando isso, fomos perfeitos na nossa lentidão. Livros e mais livros. Que agora lemos e vemos página a página. Desenho a desenho. Palavra a palavra. E com os quais brincamos.
The Meditating Cat - A Zen Colouring Book; ed. Tate (Tenho esperança de que seja uma preciosa ajuda durante as birras...)
Un Abécédaire, de Nelly Blumenthal (edição do Centre Pompidou; com imagens de obras do acervo do museu)
Une Animalerie, de Nelly Blumenthal (edição do Centre Pompidou; com imagens de obras do acervo do museu)
E, como eu tinha prometido às estantes cá de casa, a Up Kids com desenhos da Catarina Sobral.
Com brinde e tudo: a caixinha de lápis da TAP. Ai, a maravilha de um brinde; e esse indizível conforto que é recebê-lo a não sei quantos mil metros de altitude. PIM!
Com brinde e tudo: a caixinha de lápis da TAP. Ai, a maravilha de um brinde; e esse indizível conforto que é recebê-lo a não sei quantos mil metros de altitude. PIM!
Sem comentários:
Enviar um comentário