quarta-feira, 21 de maio de 2014

I am packing.

Sempre que me ponho a arrumar ou embalar seja o que for, sobretudo roupas e livros, a frase que me ocorre de imediato é o início de um famoso texto de Walter Benjamin:

I am unpacking my library. Yes, I am.

E continua ele: "The books are not yet on the shelves, not yet touched by the mild boredom of order."

The mild boredom of order. É exactamente o que sinto quando tento fazer uma mala. Quando se parte, o packing é tão dramático e vão quanto o unpacking. Sobretudo com este tempo. Como posso eu estabelecer uma ordem se não sei se vou ter frio ou calor, se vai ou não realmente chover? E se naquele dia, ao acordar, me apetecer vestir o casaco que ficou algures num canto lá de casa, aquele casaco que eu levei não sei para onde e que uso na fotografia onde pareço feliz e confortável e tranquila, aquele meu casaco de que preciso agora e que deixei lá, em casa, abandonado, sem corpo dentro? 

O mesmo se passa com os livros: levo este e aquele, mas já sei que, se vou ler este, preciso também daqueloutro. E vou querer poemas, poemas do António Franco Alexandre, por exemplo. Como este, de Duende (ed. Assírio):



É o que falta que fala, dizia-me muitas vezes o Manuel António Pina. Nos próximos dias, vou completar o álbum que me coube em sorte: vou ver paris contigo dentro.

Por agora, distraio a expectativa, fazendo as malas: as nossas e a do M., que ficará com a Avó. Roupa quente e T-shirts, botas e sandálias. A meteorologia não está a colaborar: tenho que deixar tudo. E deixo-lhes, ao M. e à Avó, também um livro: O rei vai à caça, da Adélia Carvalho e da Marta Madureira





Casaco de malha Zara (aqui). Livro O rei vai à caça (ed. Tcharan). 
Sweat raposa H&M. Sweat zebras You na Piri-Piri
Camisa xadrez Lego na Boozt. Pijama elefantes Smafolk na Favourite Things
Cabide Zara Home Kids. Macacão de ganga H&M.



De quem tem uma livraria como a Papa-Livros e uma editora como a Tcharan espera-se o melhor, bem sei. E o melhor está também aqui neste livro, que o M. adora. Até consegue seguir a história, contada pela Adélia em breves frases (sonho aprender um dia a contar tanto com tão pouco) porque, na verdade, mais palavras só atrapalhariam: os pequenos leitores, as birras do rei e a coragem dos elefantes.






Como não levar para todo o lado este rei pateta que vai perdendo penas, tamanho e atitude, até cair no ridículo da lama?



E estes elefantes (dois deles, mãe e filho), que se imprimem com mãos e afectos no nosso coração e na nossa imaginação, à medida que vão conquistando sabedoria, tamanho e textura?



E bom é ainda o facto de, podendo ser esta uma história com moral, em vez da grande lição final, que tudo esgota, se transferir para quem lê a possibilidade de ajuizar e de se rir de um rei tão importante que até lhe caíram os parentes na lama. E a espingarda. E os súbditos, que, lá bem para o fim, estão com um daqueles ares de desprezo que nenhum rei com birras aguenta.



As malas esperam-me. I must pack. I shoud be packingAté já. PIM!

T-shirt Zara (aqui)

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