quarta-feira, 7 de maio de 2014

Ter lavados e muitos dentes brancos à mostra.

Bem sei que em tempos recentes uma das principais preocupações dos cultores da perfeição física é a dentição. Já não estamos autorizados a sair lá para fora e rir de tudo se não tivermos muitos dentes brancos à mostra. Brancos e alinhados, cumprindo a impossível simetria, e muito bem presos a gengivas rosadas e saudáveis. É afinal o que importa. Lembro-me, claro, de Cesariny, que foi perdendo os dentes sem, contudo, desaprender o sorriso:

(...) e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo
 
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra


Não me interpretem mal. Eu gosto de dentes bonitos. E saudáveis. Como gosto de gente bonita. E saudável. "As muito feias que me perdoem/ Mas beleza é fundamental.", já alertava esse "mestre-cuca" da feminilidade que foi Vinicius e a quem dá vontade de enviar em verso, lá para o paraíso onde certamente descansa entre musas, uma receita especial de homem à moda do século XXI, pedindo-lhe que entre no jogo de assinalar as diferenças.
Seja como for, beleza é fundamental, sim, se assim nos cantam. Só que nós, que assim ouvimos o que querem os homens cantar, já nos esquecemos do que custa ter muitos dentes brancos à mostra. Já nos esquecemos dessas dores primordiais provocadas por um dente a romper, a rasgar teimosamente a gengiva. Cá em casa, o M. tem insistido em avivar-me a memória, adivinhando o quanto eu suspiro pela infância (ou castigando-me pelo tanto que eu suspiro pela infância...).

Tudo começou no Verão passado. O que levaria um bebé tranquilo que com pouco mais de um mês já dormia a noite toda a ter ataques de fúria, de choro, de baba, de devorar tudo-o-que-lhe-aparecia-à-frente-excepto-os-bonecos-de-borracha-próprios-para-pôr-na-boca-e-para-morder? Os dentes, os tais dentes muito brancos que se queriam - e querem - pôr à mostra; os terríveis dentes que, a avaliar pelo que a criança come, nem sequer são assim tão necessários para se crescer feliz, saudável e bem nutrido.

No momento em que começaram a romper esses primeiros dentes, o M. começou a comer papel e livros. Eu, ainda no escuro, tão ingénua que fazia dó, citava e voltava a citar a Natália: "a poesia é para comer!", "a poesia é para comer!"... A coisa agravou-se; o M. passou para objectos mais desafiantes. Como a lanterna que lhe ofereceu a Tia Filipa L..



Lanterna (abelha) da Imaginarium


E passou a dormir mal, à tarde e à noite. Resolvi ligar a uma amiga que tem um filho com mais um ano do que o M.: "Quando é que isto passa?!". A minha amiga, muito amável e delicada, não me queria alarmar, apesar de só me poder dar uma resposta: "Gostava de te dizer que isto só acontece com os primeiros dentes, mas é até a dentição ficar completa".


Fiz-me à estrada: fui comprar borrachinhas para o M. morder e vários tipos de gel. Comprei duas borrachas no Continente. Dias depois, a minha prima ofereceu ao M. um brinquedo para morder muito mais sofisticado e divertido. Adorou-o, sem nunca o pôr na boca.



Borrachas do Continente; brinquedo para morder Alex Toys comprado na Sig Toys


Fica bastante mais aliviado com o gel. Uso uma dedeira e ponho-lhe o da Chicco e o da Acorelle, que prefere.


Gel da Chicco; e gel da Acorelle comprado na Organii Bebé


Às vezes, finge que lava os dentes e coça as gengivas com a escova. Depois de lamber bem a pasta. 


Pasta e escova de dentes Planet Kid na Organii Bebé


É o que tem acontecido, agora que estão a nascer os molares. As gengivas do M. têm três montanhas que podiam ser escaladas por alpinistas. E que lhe tiram o sono - a ele e a nós. Vai ser assim por uns dias. E de novo daqui a uns tempos. Até que o M. fique com os muitos dentes brancos à mostra que lhe desenhou o primo F. no retrato que já aqui partilhei e no qual o imaginou com 40 anos. Temos ainda muito que penar. E conquistar. PIM!

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