sexta-feira, 2 de maio de 2014

Olha o passarinho.

O M. tem um fascínio por desenhos. Dos bons, felizmente. Talvez por isso goste tanto dos livros que há nas estantes cá de casa. E de uma das paredes do meu escritório. Há uns meses, começou a pedir-me para o pôr em cima da minha secretária. Tinha planos sérios: atropelar o computador para conseguir alcançar os desenhos dessa parede. 




Sweat-shirt com capuz da Knot (em promoção aqui); calças Zara.

Chama "Ões" ao Camões lírico desenhado pelo André Carrilho para a colectânea de ensaios Camões e a Viagem Iniciática, do Helder Macedo (ed. abysmo). Tem um certo fascínio por este senhor das rosas e do amor, o que pode revelar (wishful thinking) o princípio de uma bela amizade. À adoração pelo "Ões", soma-se uma outra pelo barco desenhado pelo João Fazenda, quadro que comprei na galeria Abysmo numa fase em que o próprio Fazenda já me tinha proibido de pendurar mais desenhos dele cá em casa (mas eu sou desobediente, mais até do que o M.); e ainda outra por uma serigrafia do Pedro Brito que já esteve nesta parede e que agora aguarda melhor moldura, no chão, mesmo ao alcance dos dedos curiosos da criança. 





Há dias, havia, na galeria Abysmo, um exemplar do desenho, baptizado pelo M. com o epíteto "móóótáá-cáu" (mota e cão), revelando um certo desprezo pela figura humana (e ainda mal conhece ele a nossa natureza...).

A razão por que escrevo hoje sobre desenhos tem a ver com o facto de ontem ter dito aqui que o meu melhor retrato era o que o Gémeo Luís tinha feito no meu exemplar d'A boneca Palmira. É mentira. A pessoa que melhor me desenhou foi, na verdade, o meu sobrinho F., aos 10 anos (agora tem 11). Ofereceu-me este "Retrato da Tia quando Jovem" há uns meses, quando eu fiz 35. Acrescentou recado: "Para te lembrares de quando tinhas força". Aqui estou eu a medir forças com uma cobra ou, na versão do F., aqui está "o bem a vencer o mal" - com uns berlindes no lugar dos olhos, o maior escaldão do mundo e uma cabeleira afro-loira que só é possível lá onde o F. se põe a imaginar coisas:





Aos 7 anos, o F. tinha-me deixado este recado num post-it, "feito num ápice", como anunciou:





Sou eu, a "crida" e afortunada Tia, a passear a borboleta. E há outras versões minhas, outros retratos que rivalizam com o do profissional Gémeo Luís. Como este, feito pela minha afilhada M. aos 4 ou 5 anos:




Ou este, do J., o mais pequenino dos nossos 5 sobrinhos rapazes, o único que me desenhou de vestido colorido e iluminou as minhas madeixas:




Partilho também este, do Mi., irmão do J., hoje cultor do realismo, ao contrário do que fazia supor este retrato de família:




O Mi. estava então claramente convencido de que quem mandava cá em casa era o P.. Desenhou o Tio em versão halterofilista e, por isso, surrealista, pairando por cima dele, dos irmãos e da Tia. 

Na secção "retratos de família", tenho que incluir mais este, de um outro M., filho de uns enormes amigos e, por isso, sobrinho como os outros. Desenhou-me como uma espécie de gota com pernas compridas. Gosto disso.




Quando o M. nasceu, surgiram novos retratos de família, actualizados. O nosso sobrinho A. fez um retrato fiel do que eram então os nossos dias: tudo e todos à volta do berço.




E, no primeiro Natal do M., tinha ele um mês e meio, o F., armado em futurista e tudo, voltou a traçar um dos melhores retratos que eu alguma vez vi. Foi o presente dele para o primo: "Aqui está, Tios, o M. quando tiver 40 anos". Ei-lo:



Fico contente por saber que daqui a 39 anos, ainda haverá sol na terra.


 


Até lá, continuaremos a desenhar. O M. está numa fase em que tudo o que importa é romper com o real. Em qualquer traço se esconde um "popó". Poesia visual. PIM!


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