quinta-feira, 1 de maio de 2014

Hoje não vamos trabalhar. Preferimos voar.

Há uns dias, a 25 de Abril, em conversas sobre a liberdade, o Luís Mendonça (Gémeo Luís) recordou-me a história da boneca Palmira. "É sobre a liberdade. Não te lembras?". 

Eu perdi parte da memória durante a gravidez. A outra parte tem-se dividido e subdividido, normalmente com resultados negativos. Esqueço-me cada vez com mais facilidade de cada vez mais coisas. Talvez por estar tão atenta ao tempo do M., que, sendo um tempo presente, se distingue, contudo, do tempo que corre lá fora, onde circula a realidade ou uma hipótese dela. Aqui dentro é melhor, claro; até porque sou constantemente obrigada a regressar. A histórias como a da boneca Palmira, por exemplo. Foi escrita por Matilde Rosa Araújo e ilustrada pelo Gémeo Luís, que também a publicou nas suas edições eterogémeas (procurem-na na secção "Livros" do site).




Hoje, que não fomos e não vamos trabalhar, já dançámos ao som dos Cool Hipnoise. Ouvimos, necessariamente, o tema "Não vou trabalhar". O M. tentou uns passos de breakdance. Mas a camisa deve ter-lhe prendido os movimentos: acabou exausto, sentado no chão, muito direito, a rir. 





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Também já lemos hoje A boneca Palmira. Lá estava o livro, arrumado na estante do quarto do M., a mesma que escritores e ilustradores temem por deixar os livros demasiado vulneráveis à curiosidade da criança. Foi-me oferecido pelo Luís Mendonça em Junho de 2008. Eu ainda não era mãe. Era, porém, tia, "uma tia querida", como escreveu o Luís na dedicatória, desenhando-me assim:


Sou eu, sem dúvida, neste retrato que me parece muito mais fiel do que aquele que me devolve o espelho. Sou eu a voar com uma criança às cavalitas; uma criança que é muitas: pelo menos, todos os meus sobrinhos, o R., o M., o F., o A. e o J.. E, agora que sou mãe, também o meu filho. Apesar da sua presente obsessão por "popós" (é a primeira palavra que diz quando acorda e a última que diz quando adormece, repetindo-a pelo meio umas dez mil vezes...), obsessão esta que se seguiu à sua segunda obsessão, as luzes, sendo que a primeira foi a "mamã" (e podia afirmar que muito me orgulhou essa fase, mas na verdade o que recordo são as dores de costas, que persistem, aliás, tal e qual como uma obsessão...); dizia eu: apesar da sua presente obsessão por "popós" e de ter ficado a olhar insistentemente para o que surge a páginas tantas no livro, anunciando-o muitas e muitas e muitas vezes ao mundo, o M. ouviu a história toda. 




Regressaremos a ela daqui a uns anos. Quando o M. perceber que num livro pode estar todo o apoio moral de que necessitamos e que uma personagem pode ajudar a legitimar as nossas acções. Ou quando começar a perceber que ser livre implica também o medo. Diz-se no texto: 

- E agora? - perguntava Palmira, com voz sumida (...). Vem aí a noite e eu só conheço a noite da sala, da luz eléctrica dos abajures... 
Nem parecia a mesma Palmira da partida pela janela fora.
Tinha medo.
- Deixa lá, não te importes, Palmira. (...) Mas eu compreendo. Ter medo é natural.




É, sim. PIM!

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